Inevitável

Sonhei que uma musa se encontrava a um canto do meu quarto, encolhida sobre si própria, apavorada com o conhecimento da sua condição. Tinha os cabelos soltos, claros e ligeiramente ondulados que a cobriam como fios de luz. Parecia esgotada, como se tivesse feito uma longa caminhada e por algum motivo tivesse decidido encostar-se ali. Sabendo que já não me acordava, e que eu a observava com alguma estupefacção, falou-me, assim como pôde, entre soluços e com a voz quase apagada, que tinha feito obras extraordinárias nunca sendo reconhecida por nenhuma delas. Não desacreditei no que me dizia pois, conheço bem as musas, as suas obras e os seus legítimos queixumes, mas não tive escolha - acendi o fogareiro, fechei a porta e sai a correr para muito longe procurando uma pá.