Sem necessidade a novidade não tem interesse

Uma rapariga encontra-se desempregada, sem namorado, nem amigos, nem família. A vida da fábrica e o pão, sopa e novela à noite, antes de deitar, que aiás a satisfaziam o suficiente, terminara.
Um desses primeiros dias da sua nova vida acorda tarde. Pela janela do quarto ainda escuro vê que a vizinha se levanta e se veste. A rapariga acompanha os movimentos da sua vizinha da frente no quarto e depois na cozinha. É mais uma mulher sozinha. O seu levantar e vestir condicionou-se desde então com o vestir e o pequeno almoço da outra e os dias passaram a ter um sentido de novo rotineiro, na rotina da outra. A outra, igual a si no passado. A outra espelho de si na rotina, na pertença a outros. Incansáveis as duas na procura de hábitos longe dos maus pensamentos de quem quer o que não tem.