Viver na sua cabeça

Certo artista pediu aos dedos que alcançassem o impossível para que o seu talento se ultrapassasse a si mesmo. Aos poucos os músculos cederam e romperam-se, deixando os dedos incapacitados de se moverem. Os ossos tornaram-se quebradiços e porosos e não tardaram a ficar em areia fina. A gordura ficara seca e a própria pele não podia, sozinha, manter a flexibilidade necessária. As unhas caíram. O cenário horrível de matéria apodrecida foi causa de alegria ao insano artista que felizmente conseguira fazer vingar o seu talento - puxando-o de entre as mãos fabricadoras para a sua cabeça onde a possibilidade de extensão dos limites era infinita.