Anotações

Todos os dias, à noite, me dedico a escrever três linhas sobre um pensamento que me surgiu durante o dia. Iniciei esta tarefa hà muitos anos e entretanto esqueci-lhe a razão. No princípio era difícil pois hà dias em que não se pensa em coisas interessantes para contar por escrito. No entanto, com o tempo, pensei cada vez mais nos meus próprios pensamentos e como estes se interligavam e como de uma coisa aparentemente pequena e insignificante conseguia construir um mundo com a imaginação. Gradualmente acontecia ao longo do dia ligar um primeiro pensamento a outros que se seguiam de coisas que aconteciam e coisas de que me lembrava da minha história, das minhas leituras e das conversas que tinha com os outros ou que ouvia os outros terem entre eles. Passou a ser cada vez mais fácil. A minha consciência do mundo alterou-se. Com os anos, ganhei uma habilidade intriseca de ver o presente, o passado e futuro com uma só coisa indistinta. Tudo se encontrava numa relação de dependência. Foi num dia de frio em que tinha ficado em casa constipada que descobri o dia e a condição da minha morte. Fiquei fascinada. Este seria o teste final das minhas capacidades. Andei meses ansiosa e deixei de ter medo de morrer. Sabia que fataria muito tempo e que seria de uma curiosa mas ao mesmo tempo gloriosa. Não podia anteceder o evento, pois seria apenas um acontecimento numa cadeia de outros aocntecimentos, todos interdependentes. Aos poucos deixei de ouvir conversas e perceber o mundo, afinal o teste final era muito mais fascinante. De forma que, para minha surpresa, investigo todos os passos para confirmar se concretizo realmente se concretiza aquele momento.