Infinito traduzido

Dois amigos foram pescar no mar alto. Queriam passar tempo juntos para se concentrarem, cada um em si e no outro e também conversar a vida do quotidiano. Pararam o barco onde acharam ser o lugar certo para apanhar peixe grande.
Duas horas passaram e nem sombra ou sinal de peixe, já a conversa era profunda e abundante. Quatro horas passaram até sentirem o primeiro movimento de algo debaixo de água. Os ânimos estavam postos no momento. O que mordeu era forte e pesado. Estavam radiantes. Chegou a hora de puxar o fio da cana. Lutaram, lutaram e lutaram até conseguir içar o animal. Ou aliás, a ânfura, pois era o que vinha preso ao fio. Trouxeram a ânfura, que era muito velha e cheia de coisas animais e vegetais coladas e que a deformavam, para o chão do barco. Estava tapada a entrada para o seu interior. Sem hesitar abriram a tampa. De dentro saíu uma figura semi-transparente que os cumprimentou numa linguagem arcaica mas que entenderam, ainda que com algum esforço. Agradecido por o terem libertado, a figura prometeu realizar todo e qualquer desejo, dito ou pensado, que podesse ser efectuado de imediato, pois dentro de momentos seria a sua essência alterada pela brisa do mar e desapareceria para toda a eternidade. Esta era a forma como voltaria ao elemento a que pertencia - o ar. Os dois amigos olharam um para o outro incrédulos, felizes por partilharem tantas coisas durante os anos que se conheciam, especialmente este momento, e por terem dado uma ajuda tão improvável quanto maravilhosa a uma entidade que se apresentava quase divina. Abraçaram-se. Sabiam sem o expressar em palavras que desejo estava concedido.