Fome

Encontraram-nos com a pele esfregada de gordura ensanguentada, com restos de osso humanos à nossa volta, magros e enlouquecidos, numa cave esquecida no centro da cidade. A primeira pergunta que nos fizeram foi se tínhamos fome. Ridículo, foi ridículo! O meu amigo disse: “ a minha fome era outra…não era de justiça, mas fome de reconciliação!”. E eu seguiu: “sim, sim, isolamo-nos para poder voltar a sentir humanidade e ter o desejo do convívio…mas o nosso isolamento criou em nós expectativas muito altas e acabamos por viver sofregamente na ansiedade de nos reunirmos; no dia em que nos encontraram já só conhecíamos a reconciliação pela carne e comemos um padre da aldeia mais próxima por amor”