Vigia

Calhou-me ficar de vigia no turno da noite.

Os vigias já não tinham direito a abrigo como sempre tiveram. Por isso ficavam muito cansados por caminharem quilómetros sem sítio onde se sentarem. Em principio não acontecia nada, mas como havia precedentes foi decretado que estaria sempre alguém de vigia.

Eu preferia que acontecesse alguma coisa. Canso-me menos e sinto-me mais gratificado. Os meus colegas lêem, mas eu não consigo distrair-me. Sou muito sensível e não foi ninguém que o disse – sinto-o em comparação aos meus colegas. Devo-me ter borrado mais vezes do que eles todos juntos.

Comecei então a pensar de onde vinha o medo. Se soubesse o que o fazia despertar tentaria evitá-lo. Revi o espaço todo, às voltas, sempre com o mesmo pensamento.

No final decidi provocar em mim o que me desse mais medo para me por à prova.
Assim o fiz. No entanto, o resultado não foi positivo, os meus esforços resultaram na minha própria asfixia.