Casa de Praia

(Outono)
Saímos a meio da tarde para uma caminhada entre as rochas. À medida que nos aproximávamo-nos do mar sentíamos uma aragem fresca, mas suportável. Avançamos com a intenção de chegar perto da água, como se tivéssemos proposto secretamente este desafio uma à outra. Prestes a tocar no limite das rochas, encontramos uma superfície relativamente horizontal onde nos sentamos um pouco. Puxei de um cigarro que trazia num bolsinho dos calções e acendi. Disse serenamente: “podia-te atirar agora e deixar-te afogar”. Ela respondeu: “pensei no mesmo, mas sei que te sairias melhor porque sabes nadar”.

Sorrimos e descemos até ao sítio onde terminavam as rochas - que fica a mais de três metros de altura da água. Uma vez que tínhamos pensado as duas no mesmo, e o comunicamos, não havia outra solução senão esta: íamo-nos empurrar até que uma caísse. A que ficasse na rocha podia redimir-se do seu mau pensamento se se atirasse para salvar a vida da outra.

Subitamente uma onda engoliu-nos, mas ela não soube nadar.