Medo

Costumava sair à noite para vaguear um pouco. Chegava a caminhar uma noite inteira até depois das primeiras luzes da manhã. Caminhava sem programa definido e esperava não ser interrompido por ninguém ou acabaria mesmo por se desconcentrar.
Esta rotina tinha uma finalidade: servia-lhe para entender os seus medos. Tinha medo infinito de tudo o que lhe era estranho ou seja, tudo o que não era ele próprio, e à noite piorava com a escuridão.
Assim ia explicando a si próprio o significado dos seus medos, um a um, recitando uma lista que escrevera.
Quando chegava a casa estava exausto mas aliviado. Era então que lhe ocorria o que um amigo lhe dissera em tempos: “ os medos são-nos úteis na medida em que nos impedem de seguirmos pelo abismo fora”. Mas ele, naquele momento, também não tinha medo do amigo.