O gato cinzento

Ás quatro da manhã estava acordada e pronta, com o pequeno almoço tomado e fora de casa. A noite toda não houve como adormecer, estranhamente algo parecia me chamar da janela. Entrei na floresta densa que se impõe, uns metros em frente à minha porta, e caminhei, guiada pela luz da manhã que era ainda cinzento-azulado. Ao meu encontro veio um barulho suave de folhagem no chão. Não sentia perigo algum (também não sou de me assustar com qualquer coisa) mas por precaução parei, atenta ao pisar das folhas. Aproximou-se de mim aos poucos, rente ao chão uma forma cinza azulada, quase da cor do céu. Era um gato gordinho, muito bonito que ficou de frente para mim. Não seria de todo estranho esta situação se não fosse o facto de o gato não se mexer. Ficamos assim como que hipnotizados um a olhar para o outro como se até conseguissemos realmente comunicar. Verdade que ali se passou alguma coisa, porque o facto é que virei costas e voltei para casa, dei umas sobras de arroz com couve e cenoura ao gato, despi-me e fui me deitar novamente.
Adormeci.
Estava de noite quando voltei a acordar. Não encontrei o relógio nem mais nada que me disesse as horas e como não era importante sentei-me com um chá à minha frente. Fiz o tempo andar para trás mentalmente e recordei-me de me levantar e ter trazido um gato para casa. Procurei-o mas em lado nenhum consegui encontrar. Por alguma razão estava ainda cansada e por isso voltei a adormecer. Sonhei com o mesmo gato cinzento, enorme e muito bonito. No meu sonho eu era gato o gato e eu ambos eramos o mesmo.
Acordei.
Ela ainda dormia enroscada nos cobertores. Eu acordei, como sempre, entre as dobras dos seus joelhos. Estiquei-me, lambi-me para retirar os pelos do cobertor e abrilhantar o pelo. A porta ficou aberta e eu então saí. Fora está um luar tão lindo. Como gostaria de partilhar com ela este luar. Se for forte o meu desejo conseguirei que acorde e venha ter comigo à floresta onde podemos estar neste meu mundo felino de caçar e correr ao luar.