Postais amorosos

Coleccionava postais, qualquer postal, com palavras de amor de uma mulher para um homem. Corria as lojas e feiras de coleccionadores. À noite lia-os várias vezes e imaginava-se em cada uma das mulheres e pensava no seu amado que era cada um dos homens a quem os postais eram dirigidos. Teve amantes em variados cantos do mundo, em variadas cidades, e mandou notícias de muitas outras cidades, de muitos outros cantos. Foi uma época de felicidade plena no seu pequeno quarto alugado de uma pequena cidade, na sua vida solitária de mulher madura e sempre solteira. O acaso mudou-lhe o destino quando encontrou vários postais de uma mulher para o seu amante na prisão. Apaixonara-se pelas palavras e não pelo mundo imaginário que a partir do postal conseguira sempre evocar. As palavras dispunham-se de uma forma que nunca tinha lido antes. A quantidade de postais que encontrou era imensa e as suas datas recentes. Resolveu procurar a pessoa que os escrevia. Esse momento da resolução foi fundamental para quebrar a felicidade na solidão. Encontrou a escritora dos postais e a aprtir desse encontro resultou um romance que lhe levou a vida. A escritora era um abismo.