Besta

Um homem vivia numa aldeia à beira mar. Entrou numa zaragata com alguns dos habitantes, de tal forma que lhe tentaram incendiar a casa. Para se proteger começou a escavar o solo delimitando uma área que considerava suficiente para habitar. Depois de dias de escavação aquele pedaço de terra soltou-se e entrou mar adentro.

Mas o mar também não o queria lá e disse-lhe: “Tenho motivos para duvidar que tenhas um bom carácter.” Assim, revirou o homem e a sua ilha ao contrário, de forma a que este vivesse ainda mais isolado, e pudesse pensar no seu carácter com tranquilidade, sem distracções. No entanto o homem, com o tempo, transformara-se numa besta e com toda a sua ira criara todos os desastres marítimos provocados por causas naturais.

O mar arrependeu-se de o ter julgado mal e pediu-lhe perdão antes que mais algum desastre tivesse para acontecer. O homem, transformado em besta, disse: “alimento-me dos bocados dos náufragos e pedaços de madeira podre dos barcos, bebo óleo e tua água salgada, o teu juízo foi fraco, mas agora está correcto”.