Korosti e Marsake

O Sr. Korosti tinha sido, desde a juventude, caixeiro viajante. Prenoitava aqui e ali e assim compreendeu a surpreendente variedade da diversidade humana. Tinha esta capacidade de viajar incansavelmente durante dias, meses, de estado para estado e dizia que por vezer tinha também viajado no tempo. Sempre que voltava à sua terra, juntava-se com amigos, no bar da esquina da casa que partilhava com a esposa e dois filhos, e contava as aventuras entusiasticamente. Os amigos seguiam os relatos como quem assiste fascinado a um filme de aventuras que, embora ficcionado, é baseado no momento de uma vida real. O objecto do seu negócio era contudo o menos importante e ninguém sabia sequer de que se tratava, nem a família.
Hoje era um homem reformado. Viajava somente para visitar antigos clientes, agora amigos. De entre as suas relações contava-se um velho senhor, ermita e inventor, o Sr. Marsake. Ainda faziam as velhas diabruras de sempre, testando maquinetas e engenhos e sobretudo viajando no tempo, melhorando sempre mais a sua própria existência. Todos os passados eram conhecedores dos seus futuros e vice versa. Conscientes das limitações do corpo e de que na vida só se pode seguir um caminho de entre as multiplas opções que se apresentam a cada momento, o Sr. Korosti e o Marsake, ainda assim, eram donos do seu destino.