Pontes entre pontos

Estamos todos de passagem em qualquer lado. Refrear não ir e não fazer, torna a vida amarga, a de cada um e a dos outros. A glória de ultrapassar a barreia do nosso medo do novo é pessoal e ninguém alguma vez conhecerá nenhuma outra que não a sua. É nessa glória que está a realização de quem somos e não no reconhecimento dos outros.
Um dia fui-me embora da família por encontrar em mim uma tendência inata para a decepção. Durante vinte anos morei na floresta ao lado da aldeia onde nasci. Nunca ninguém me visitou. Pensavam que lá eu era feliz. E eu fui feliz na minha solidão infligida. Na verdade, sabia que sozinha não seria nem encontraria decepção e isso deixava-me feliz. Com o passar dos anos no entanto, também aqui me sentia desmotivada e triste: queria ser capaz de me meter toda cá dentro de mim até ser, exteriormente, um ponto invisível e não conseguia. Desmotivantes eram também os outros: queria das árvores ainda mais beleza, dos sons dos dos animais ainda mais perfeição, da terra ainda mais cheiro. Depois de uns anos de triste revolta pensava em voltar. Em vez disso preparei um fato e um espaço debaixo de água onde não entra água. Mudo-me em breve para o meio de um lago, onde o silêncio é total, onde não há animais nem terra nem mais nada.