ENTRELINHAS

Há homens que caminham com sacos de plástico pela noite dentro em todas as cidades. Saem pouco depois da hora de jantar. Diz-se que recolhem o desperdícios dos outros, vivendo do pouco que lhes é deixado, nos contentores do lixo e nas entradas das portas. Mas é uma falsidade. Eles não se sustentam da recolecção, eles não necessitam do que encontram, eles vasculham mas não levam nada...enfim, apenas passam o tempo assim. São aliás bastante esquisitos e sentem-se enjoados com os outros. São até arrogantes ao ponto de fazerem considerações sobre o modo como vivem os outros habitantes da mesma cidade. O que fazem é vitimizarem-se (o lugar do silêncio é o lugar da vitima), desejam que se tenha pena deles e assim, neste lugar confortável que lhes é conferido, adiam a imensa vontade de se insurgirem activamente (e nunca o fazem). Ao mesmo tempo, é só assim que são deixados em sossego, nos seus pensamentos e nas suas angústias.

Hans encontrou pela primeira vez um livro que lhe deu jeito a elevar a cabeça para dormir num banco de jardim.