Opostos negros

O gelo cobria a água do lago e através da sua translucidez viam-se as plantas e alguns peixes congelados.
Estes, os que foram feitos para serem congelados, ainda assim vivos, observavam também os seres que estavam para além da superfície, do outro lado da translucidez. Navegavam até ás profundidades mais escuras e voltavam à superfície para ficarem quase cegos de luminosidade. Quando olhei com atenção para as algas que flutuavam abaixo do gelo encontrei dois olhos que retribuiam o meu olhar. Em espanto por ser observadora observada olhei ainda com mais curiosidade em confirmação. Espelho de mim não era. Outro concerteza e talvez um oposto. De tão incrível movi-me e o outro seguiu-me. Movendo o corpo não movi os olhos. Durante dias congelei na miragem de um outro, oposto negro de mim.