Paciência

A luz estava fraca. Mas foi suficiente para que ele desse conta que alguém tinha entrado no quarto e que se tinha colocado atrás de si. Deu então uns abanões no ar com o tronco para trás e para adiante a ver se intersectava o gatuno, mas nada. Ainda assobiou com força a ver se o ar o gelava e o tipo soltava um ai. Mas também não funcionou. Definitivamente não queria dirigir-lhe a palavra. Não se humilharia assim para falar com um desconhecido que não teve o senso de o saudar. Também não lhe queria mexer muito porque não sabia de onde vinha, de que é que era feito a sua matéria (carne, osso?), nem a sua natureza relativamente à possibilidade de se mostrar vingativo. E depois, não sabia se tinha ido até ali simplesmente de boa fé. Assim sendo melhor era deixá-lo. Então começou a fazer de conta que estava sozinho a ver se outro se cansava. E parece que ficaram os dois juntos durante muitos anos, até que um teve que ganhar ao outro em termos de paciência.