Como uma pedra que cai no lago

Havemos de nos encontrar daqui a vinte anos neste mesmo lugar. Vinte anos é muito tempo, respondeste. Sim, é, mas será o necessário para que grandes coisas aconceçam a nós, aos outros e a este lugar.
O golpe tinha desmoronado a economia de uma pequena empresa que dissimuladamente era pertença de elementos centrais de certos grupos poderosos. A actividade desta empresa era de maior importância para a sociedade como a conheciamos na altura. Ainda não é a nossa hora, disse-lhe, somos vilões, em vinte anos seremos heróis.
Em vinte anos houve duas revoluções de onde resultaram novos sistemas políticos, interessados em outros propósitos para além do poder económico. As populações questionaram o propósito de certas indústrias e serviços porque perceberam a superficialidade da sua existência. Estavamos preparados para uma certa crise provocada pela nosso golpe, uma acção semelhante à retirada da carta situada no meio do baralho, mas nada assim tão grande. O dinheiro do roubo, razão porque tinhamos ambos fugido serena e separadamente, tinha se multiplicado entretanto. O segundo encontro foi breve e depois dele seguiamos o mesmo destino mas milionários. Foi nesta altura que mudei silenciosamente com a família para um novo país e comecei uma nova vida. Ávido de mostrar ao mundo os seus feitos de riqueza e proeza O meu companheiro acabou nos notíciarios de todo o mundo. Tinha se esquecido que certos heróis, para o ser, têm que permanecer em silêncio.