Instintos

De madrugada. Um crime foi cometido na rua do lado. O assassino olha, de cima para a vítima no chão, como que paralisado. O movimento da rua parou. Aproxima-se a polícia anunciando-se estridentemente. A vítima, ou aliás, as duas vítimas são um gato enorme (quase um leopardo) e uma rapariga. Os cabelos dela, como manchas de escuro, envolvem o animal num gesto protector.
Era meio-dia quando a polícia chegou. Prederam o assassino, ainda imóvel, e questionaram as pessoas em volta do cenário que não tinham as respostas.
A noite passada tive vários sonhos estranhos com animais que a mitologia descreve como simbolos de protecção. Nos meus sonhos estes animais existiam como animais e não como estátuas e tinham fraquezas, tal como os super-heróis que são as figuras protectoras dos nossos dias. Acordei de um desses sonhos, levantei-me e fui fumar um cigarro estava já o dia a começar. Pela janela encontrei uma rapariga que caminhava e à frente dela caminhava também um enorme gato. Um homem cruzou-se no caminho, perpendicularmente. A acção do gato tornou visível o que foi uma manifestação do instinto de protecção pessoal. A rapariga agarrou-o de forma carinhosa e com cuidado. O homem reagiu, instintivamente também e sem perceber que o fazia. Deu-se o assassinato.