As ervas daninhas não nascem sozinhas

A mais bela estampa que para ela, algum dia, tinha merecido a pena ser rasgada de um livro da biblioteca tinha sido a menina a comer um pássaro de Magritte. A boca ensanguentada lembrava-lhe qualquer coisa de muito delicado. Lembrou-se de copiá-la e de a passar para uma pintura sua e dizia a toda a gente que era dela a ideia de toda aquela pose, desenho, associação de cores e luz. E de facto ela acreditava tão profundamente que era já uma jovem pintora de reconhecido nome, com pinturas reproduzidas em todos os livros de arte existentes nas bibliotecas de todo o mundo que quando não acreditaram nela, pela primeira vez, ela ficou muito abatida, como se lhe estivessem a magoá-la com força. Nunca mais acreditou e nenhum pombal, gaiola ou ninho foi suficiente para se esconder.