A comunidade que se repete

Sentado debaixo de uma árvore exótica cujos ramos e o tronco se confundiam, Elder olhava para a palma das mãos com estupefacção. – “Não pode ser, não pode ser”. Dizia ele para consigo mesmo.

Apalpou com as mãos o ventre e massajou-o em círculos perfeitamente sincronizados pelas as duas mãos. Parecia que procurava ver-se à transparência como numa ecografia. Pressentia que havia vida lá dentro, um certo tipo de vida que pouco ou nada dependia dele. “Quem está aí? Está aí alguém?”.

As aulas de biologia e a professora em especial - que lhe dera tantos conselhos para o futuro como amiga tanto quanto o punia com olhares severos – alimentaram nele a ideia que havia vida, mas uma vida múltipla, em número, e agora sabia que era verdade.

“E as abelhas? E as formigas? Comunidades de grandes e de pequenos? Dentro e fora de mim?”.
Enquanto se confrontava com a imensidão do universo e a sua desoladora finitude lançou mãos à obra e com um pauzinho desenhou na poeira, debaixo daquela singular árvore, uma cosmologia de escalas sem hierarquia, eram apenas assim.

E descobriu que pela relação que tinha criado, ele e os seus semelhantes podiam muito bem ser qualquer coisa como um microrganismo no ventre de um gigante.