Uma aparência genuina

Perseguiu-o pela rua fora e aos gritos: seu cão, seu dando, desvairado, e a lista continua a certa altura repete-se. O perseguido era um homem aparentemente calmo, seguia em frente sem de todo aparentar ficara afectado pelo rasto de insultos e palavrões. Curiosa e cheia de tempo para gastar, segui a cena de longe. O homem entra numa loja de livros e ela não, fica à porta, a olhar muito curiosa para dentro, seguido-o atentamente. Entro na loja, sigo em frente, enquanto os olhos fazem a procura bilateralmente. Encontro-o na secção dos romances. Chora enquanto lê. Sorrio para ele como quem amavelmente quer acalmar uma dama abandonada pelo seu amante. Ele sorri-me de vota e pergunta se já li o livro que segura na mão: Não, ainda não li, respondo. Chama-se As Sombras. Foi escrito pelo meu avô, uma pessoa, como muitas outras aliás, que eu não conheci. Vivo o livro com a minha vida, todo o livro, palavra a palavra. É para me conhecer. O fantasma do meu avô falava ao meu pai e fala-me também. Penso que somente ler o romance não chega para sumprir o seu destino, é preciso realiza-lo. Foi uma ideia da minha Senhora.