Observação do tempo na sua passagem

O comércio e todas as instituições tinham um horário regular. Em qualquer lado e o tempo de todos era formatado e, consequentemente, os dias e as acções de cada um. Havia as alturas certas para tratar de um papel ou para comer.
Achou muito estranha esta regulação a princípio mas não havia outra opção, teria que se adaptar. As vidas eram regulamentadas, não só nos horários diários mas também no tempo de vida: as coisas tinha uma altura certa para se aprender e a aprendizagem era segmentada, compartimentada e estruturada. Veio a esta cidade com uma missão. Chegou faz dez dias. Sentada num jardim, considerava certas partes da sua existência que nunca antes tinha questionado. O lugar de onde vinha, onde tinha se desenvolvido até à idade adulta, era muito diferente. Também lá o tempo era regulado, o que se relaciona com o ciclo da vida e o outro que está relacionado com o ciclo dos dias. A regulação era contudo diferente, não havia um consenso a menos que acordado, caso a caso, momentâneo, entre duas ou mais pessoas. Aqui parecia que se corria para apanhar o tempo a tempo que fosse tarde e tomavam-se atitudes até de certa forma ridiculas, como por exemplo correr à chuva para chegar na altura exacta a algum lado. Eram mais serenos os dias na sua terra e as atitudes menos obcecadas com a exactidão. Levou uns dias a perceber certas palavras como atraso, erro e falha, entre outras que descreviam momentos, acções ou comportamentos desviantes da norma establecida. Este era um estudo sociológico de observação. Tirava notas constantemente e apontava os seus sentimentos e reacções. Procurava entender a vantagem primeira desta forma de organização que em tudo parece ser uma forma de estar sempre em conflito consigo e com os outros.