Dor de cabeça

L. estava a almoçar na cantina da escola. Tinha cinco anos e sempre fora difícil para se alimentar. Quando lhe colocaram no prato a sopa voltou a pedir, como aliás fazia todos os dias, que lhe fosse retirada a obrigação da sopa porque lhe criava um certo mal estar na garganta. Como resposta obteve um olhar fulminante da empregada gorda que quase lhe despejou a terrina com líquido a ferver em cima. L deitou os olhos ao prato e desta vez não começou nenhuma fita que a condenasse a um castigo pior que comer as duas colheres de sopa. Os colegas, tal qual um publico ansioso, relaxou e riu-se com gozo. Distraídos a trocarem comentários brincalhões não repararam que L tinha a cabeça à roda. Ao fim das primeiras voltas o corpo já estava morto por asfixia. À centésima a cabeça destacou-se do resto e rolou até aos pés da cozinheira.