Ténis

No final de uma tarde de verão em Istambul, num court de ténis, duas raparigas disputam um torneio amigável. Ouvia-se a batida das raquetes nas bolas ao mesmo tempo que se soltavam os sons da respiração esforçada das jogadoras, depois os aplausos, as assobiadelas e o júri, a marcar pontos. O resultado foi um empate técnico. Uma das jogadoras saiu dos balneários para casa. Não sem antes se despedir das amigas de infância que como ela começaram a treinar ténis desde muito cedo e dos sócios do court que estavam no bar – tudo gente de boas famílias que a conheciam tão bem. Nessa noite acordou com um golpe fulminante nos pulmões. Foi hospitalizada e acompanhada durante toda a noite até ao raiar de um novo dia. O médico quis falar comigo:
- “Ela tem uma doença que lhe roubou o ar dos pulmões, mas que nada tem a ver com estes, a doença invadi-la-á com regularidade e sempre desta maneira, em contacto com algo absolutamente inexplicável do exterior, que pode ser uma sensação, um insecto, um objecto, um edifício, um sopro de ar. Não há tratamento, há no entanto que tomar decisões: há no momento presente duas, que você tem que me ajudar a escolher. Se ela sair e se expuser morrerá de imediato, mas se se fechar em casa (ou num espaço razoavelmente ventilado interno), tem que ser para sempre, sem volta a dar, e se por acaso sair, vai perder todas as forças aos poucos e no termo de dias morrerá.”
Respondi-lhe: - “podemos injectar-lhe aos poucos um pouco do exterior para que se habitue e fique preparada, enquanto isolada, para que o efeito de exposição não lhe seja fatal. O que lhe parece?”.
- “Parece-me razoável, mas não resolverá nada para já...”
- “E porque me pergunta a mim?”
- “Porque tem os mesmo sintomas, mas vai com dois anos de avanço aqui no hospital”