Cobra de água

Fora acusada de amamentar os animais no Zoo como se fossem as suas crias, por entre as grades, e cumprira por isso uma pena elevada. No entanto, o que se podia pensar como sendo uma história do passado, voltou-lhe a acontecer quando um elefante adoeceu e a foram buscar a casa. O tratador implorou-lhe que lhe desse um pouco de afecto maternal. Ela recusou, estava no direito de se proteger uma vez que tinha alguns animais domésticos por sua conta e desta vez não havia ninguém por perto para a substituir. Dias depois o elefante matou-se, enforcando-se com uma corda. Desesperada, com sentimentos de culpa avassaladores, voltou ao Zoo para amamentar e acarinhar. A certa altura, apercebeu-se que seria impossível manter-se naquela situação, preferiu pôr um fim ao jardim - que no fundo tanto odiava como espaço de enclausuramento, prisão e tortura - e distribuiu entre todos pastilhas de efeito imediato. Os animais estenderam as patas por entre as grades com ansiedade, agradeceram-lhe, e cada um, em sua consciência, tomou a pastilha quando sentiu que estava na sua hora partir. A senhora, mudou-se para a selva onde comungou com a natureza em igualdade de circunstâncias, vindo a terminar como cobra de água - ilesa e escorregadia.