Multiplicidade da unidade

Sistemas seguros e fiáveis para armazenamento de informação são muito bem pagos. Hoje em dia, com o problema crescente da mudança constante de idêntidade, quem vende uma história de vida com factos comprovados e ficha médica legal está rico. A situação é alarmante mas não existe lei que regule de alguma forma a troca de idêntidade quando mudar é um processo tão simples quanto actualizar um ficheiro de texto. Quando a ligação entre um ficheiro individual e os demais, oficiais, aos quais este está ligado, podem ser manipulados, as possibilidades são infinitas. Os ganhos, para os traficantes, ultrapassam de longe os do tráfico de químicos ilegais. Mariana, uma jovem Tailandesa, iniciou-se no tráfico de informação aos 15 anos vendendo a sua própria idêntidade. Os casamentos polígamos são, na Tailândia, legais entre os portadores de passaporte nacionais. Os compradores da sua idêntidde, um casal das suas relações, procuravam desesperadamente uma nova idêntidade para uma rapariga mexicana de forma a oficializar uma relação de longa data. Com o dinheiro da venda Mariana comprou uma idêntidade superfícial, isto é, que não tinha história mas, por contrapartida, tinha um excelente registo médico. Viveu-a durante uma semana de forma a dar à idêntidade um bom contexto, as boas notas escolares foram trunfos excelentes. Vendeu-a logo a seguir. Um ano depois de ter iniciado, Mariana tinha encontrado e adquirido um raro sistema de armazenamento exterior ao corpo, num formato muito antigo, e no entanto compativel com os formatos mais actuais. A idade de manufactura fazia deste um sistema ignorado e sem interese para os demais traficantes. Aí depositou a sua última e definitiva idênidade, a de uma velha senhora compositora de jardins privados. Mariana, agora rica para além do que conseguia gastar, com uma idêntidade intocável, dedicou-se ao estudo do comportamento social como reacção ao clima na zona mais populacional da Cidade, a capital da coligação dos estados continentais.