Comunicação Falível

O meu telefone nunca tocou tão tarde como naquele dia. E uma surpresa seguiu-se à outra, porque em vez de ficar sobressaltado em consequência do toque fiquei tranquilamente debaixo dos lençóis. Calculo que devem ter insistido umas cinco vezes até eu me convencer que devia atender o telefone. Sentia uma preguiça enorme, as pernas estavam cansadas e os braços esticados hirtos como se tivessem nascido sem articulações. No tronco passava-se qualquer coisa de sensacional, um tipo de bem estar estupendo, precisamente o oposto ao que se sente quando se come demasiado ou quando se interrompe a digestão. Na minha cabeça não se passava grande coisa; estava dormente pelo todo mas com boa disposição. Falei para o outro lado da linha metendo o auscultador entre mim e o travesseiro: - “Que deseja?”. A resposta não tardou: - “Dar-lhe um tiro”.
- “Por favor leve tudo o que eu tiver que lhe agrade, mas não me mate, sinto-me incapaz de morrer assim neste estado!”