Estampas

Dois amigos seguiam num carro a alta velocidade em direcção ao desconhecido – eram dois forasteiros praticantes. Tinham acabado de beber bastante na companhia de duas raparigas locais. Vinham a cantarolar e a contar piadas para se entreterem. Steve adormeceu ao volante provocando a sua morte. Pat acordou num hospital dois anos e meio depois. No início estava bastante confuso, não tinha noção nenhuma da realidade. Acabou por pedir que o levassem para casa numa tentativa de encontrar referências. Foi transportado de imediato para o hospital mais proximo da sua terra natal mas não foi possível contactar nenhum familiar. Pat tinha ficado com as pernas danificadas e mal se mexia da cintura para baixo. Os médicos previam que fosse ficar ali mais uns meses, até anos. Pat, pediu um bloco e uma caneta do bolso da enfermeira. E com a ajuda desta colocou-se em posição para desenhar. Começou a desenhar o que lhe vinha à memoria. Dos desenhos isolados começaram a surgir cenários, primeiro simples e depois muito complicados. O tema, quando era possível identificar, variava: podia ser o acidente repetido mais de mil vezes ou os episódios do hospital que assistia entre doentes, médicas e enfermeiros. O que realmente surpreendia era a sua capacidade de desenhar tudo com o mesmo tipo de linguagem gráfica das estampas medievais sem nunca ter visto uma.