Paralelos

Lêr o jornal, num café da baixa, de manhãzinha é uma prática habitual dos preguiçosos e reformados.
Zé Estrofes não era preguiçoso nem reformado mas também lia o jornal e tinha o vício de ler o ilegível. Enquanto que os outros liam os factos, ele lia as abstracções das narrações. De uma ponta à outra, lia o jornal ao contrário, da última página para a primeira, da última letra para a primeira e aí procurava o desígnio diário nas conbinações das palavras ao contrário e das frases ao contrário. Descubriu ao longo dos anos muitas coisas em relação a sociedades secretas desconhecidas, verdades apocalípticas e rumores de destruição intercontinental. Zé Estrofes morava com o cão Poeta. Era sim senhor um bonito cão e muito inteligente também. Quando tinha dificudades em perceber um enigma bem escondido entre as letras, o Zé Estrofes deixava o Poeta usar as palavras e se não era um, era o outro que encontrava a solução. Isto explica a ligação especial entre eles.