Os invisíveis

Tenho saudades das fotos, ainda que digitais, ainda que registos imóveis de momentos. Tenho saudades de recordar rostos e lugares. Tão ridícula como estranha esta imposição governamental para a abolição das colecções e qrquivos pessoais de memórias em forma de fotos, vídeos, músicas, etc. Ridículo sermos parte que activamente constrói uma só memória colectiva, num arquivo geral. Infelizmente, por ter uma actividade inclassificável, não posso nem armazenar nem aceder à base de memórias colectiva, ao arquivo geral. Não posso ver o teu rosto, ouvir a tua voz, a dos nossos filhos e recordar. Não faço parte da história que será lida pelos que vêm a seguir a nós. Será que alguém, algum dia, se questionará sobre quem é a mãe dos teus filhos? Tenho deixado rastos para que me sigam, os que posso e que não sejam elementos de violação da ordem ecológica. Essa ordem ecológica, ridícula também, a mesma que nos impossibilita coleccionar memórias, que nos impossibilita ser individuos com vidas próprias. Sigo o meu caminho; esta espécie de estafeta interterritorial que sou, em constante mobilidade, um perigo para uma aparentemente frágil estabilidade.