Fragmento

Hoje V. trabalhou umas 12 horas na sua nova instalação, ainda que neste horário esteja incluído os encontros a dois com o galerista e alguns clientes. Nesta fase do projecto, V. tem o estúdio aberto a todos os interessados, privados ou representantes de instituições, que paguem o registo para acesso a meia hora de estúdio aberto. Desliga os sensores das mãos e dos tornezelos.
A instalação é virtual e ela molda o material com o corpo todo. Para isso precisa de um sensor especial que tem ligado directamente ao cortex, um novo sistema não transgressor mas ainda demasiado recente para se saber os efeitos da sua utilização a longo prazo.
Espera um pouco, antes de se desligar totalmente, para que algumas pessoas façam as últimas solicitações para assistirem ao desenvolvimento da peça no dia seguinte. Desliga-se então por completo do mundo virtual.
Passa na ventionha desinfectante, veste uma túnica azul e sai para o exterior do cubo que habita. Caminha para uma das rotundas, onde muito provávelmente encontrará outros artistas como ela, e onde poderá informalmente discutir trabalho bem como outras coisas de intersse comum. Não conhece ninguém, como habitual. As pessoas mudam com muita fluidez de cubo, de estação espacial, sempre à procura de uma nova actividade que lhes preencha o tempo até ao dia de serem chamados ao grande filme: onde se toma parte na construção e documentação da história global.