A cura

Um médico abre a janela do seu consultório para a praça da cidade. É meio-dia e o sol tem uma luz reticente, perdeu a linearidade e por isso move-se de um canto ao outro do horizonte, descoordenadamente, aparece num sítio ou noutro, sem ordem aparente. Ainda ssim, segundo as marcações humanas, é meio-dia. Além de um casal composto por dois homens que se perderam na troca acidental de ideias com palavras que procuram nas profundezas dos seus corpos, mais ninguém ocupa a praça. Esta é a hora em que a cidade é dos escritores. O médico é também um escritor. Neste momento a cidade está imóvel (falando de movimento aparente) para os que acreditam na vida real, ou seja, para os que, a esta hora, não são leitores do que é neste mesmo momento escrito.