Portas, janelas e tectos...

Todos os dias aguentava um bocadinho mais cá fora a beber o café quente sentado na extremidade do canteiro. Andava a puxar a corda e podia-se dizer que esperava encontrar o limite. Mas não, quando estava quase quase a ser chamado à atenção entrava pela porta giratória do escritório com um ar decidido.

À porta de casa fazia o mesmo. Chegava a passo lento e debruçava-se no portão a baloiçar. Ficava a olhar para dentro como se fosse pedir alguma coisa. Não fazia nada excepto quando era apanhado – nessa altura puxava de umas folhinhas amarelas do arbusto sob o pretexto de estarem secas. Mostrava-se sempre útil em qualquer coisa para não levantar suspeitas.

Escusado será dizer: “certo dia...” porque nunca houve um dia preciso. Ele simplesmente deixou de entrar em sítios, atravessar portas, olhar por uma janela e estar debaixo de um tecto.

Estranhamente em casa e no escritório ninguém deu conta do seu desaparecimento.
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Por casualidade, no verão, um colega encontrou-o na praça principal quando estava a caminho de ir tratar um assunto urgente que o obrigou a interromper a tarde de trabalho.
– “Anda desaparecido, não o temos visto...”;
Com um enorme sorriso e bem disposto responder: - “Mas eu estou aqui, não me escondo, não tenho esconderijo!”