A vida

Entraste num comboio como se fosses fazer uma viagem ao centro da terra. Era importante para ti visitar a família e os amigos depois de meses a trabalhar no contexto hostil da capital. Ficamos frente a frente, trocamos sorrisos. Com brevidade iniciamos uma conversa. Que coisas em comum tínhamos? Recordas-te?...Isso, tínhamos tudo. Que espelho! Poderia pintar os lábios só a olhar para ti sem me enganar ou borrar os dentes, podia ajeitar a fita do cabelo, que ficaria logo bem. Que reflexo! Passaram quatro anos e todos os dias eu pensei em ti, éramos tão iguais que me dava a impressão que te tinha tirado alguma coisa. Tirei? Lembraste? Nunca mais te vi e comecei a desconfiar: não é natural encontrar alguém tão parecido para depois nos afastar-mos...alguma coisa se tinha passado. Também não perguntei a ninguém, porque mais ninguém te tinha conhecido (como eu). Nos últimos anos andei por aí em viagens sem ter pousado em nenhum sitio. De tal maneira vagueei que me esqueci onde estive. Mas tenho a sensação que ficou alguma coisa por resolver...que te devo?...