Um pequeno cosmos

Um dia encontrei uma cobra amarela enrolada dentro da sanita da casa de um velho muito chato e que falava também muito.
"Uma cobra tão bonita, que fazes tu aí dentro?" - perguntei eu.
Ao que ela respondeu: "Vim atrás de um anel que se perdeu e que antes estava no dedo de uma princesa. Eu estava nos seus ombros. Isto foi ontem do outro lado do globo na Austrália. Come era de noite, a princesa deu um berro - por ter deixado cair o anel - e a terra tremeu. Eu estava já a descer para a sanita para salvar o anel com a minha língua quando escorreguei, deslizei e vim aqui parar."
Como dá para perceber, a cobra também falava muito.
Eu até lhe perguntaria se o tinha encontrado mas não perguntei porque ela não se calou: "e agora, no meio de tantos caminhos, de todos os formatos e feitios, subterrâneos, que existem entre os continentes, nunca mais o vou encontrar. Quando a terra tremeu tudo mudou de lugar e o anel foi concerteza numa direção diferente da minha."
Ela ía continuar mas eu preferi fechar a tampa, apertar a bexiga mais um bocadinho, fechar a porta da casa de banho e sair dali.
Fui para a sala onde estava o velho que ainda falava do mesmo assunto que também já não sei qual era. Desejei a todos uma boa noite saí para a rua. Na rua reparei que estava noutro sítio que não era a mesma por onde tinha entrado na casa.
Estava perdida.
Estava a ficar frio e eu não tinha casaco.
Não percebia nada do que as pessoas que passavam por mim conversavam.
Entrei num café e ía à casa de banho mas vi uma entrada para uma cave.
Fui por lá e dei com um tunel. Pensei que se era verdade que os caminhos subterrâneos se tinham todos confundido então pelo menos podia ir dar a um sítio mais quentinho.
Assim foi. Saí do outro lado numa ilha onde era de dia. Encontrei uma princesa sem anel e muito triste.
Afinal o mundo é pequeno.