Jarra de Mármore

Conheci-o num Hotel. Era investigador de bactérias marinhas. Não era nem bonito, nem feio. Era alto e moreno. Sorridente. Vestia um fato às riscas azul escuro. Conversamos no bar até que este fechou. Era já quase de madrugada. Levantei-me. Dei um salto da cadeira e despedi-me. Cheia de mim, vaidosa e orgulhosa, dava-lhe a entender que ficávamos por ali, tal como devia ser para dois senhores de meia idade após um primeiro contacto. À medida que subia as escadas sentia-me aturdida. Talvez uma indigestão ou o efeito do álcool. Embora nenhuma me parecesse razão capaz de realmente me provocar tal sintoma. Subi devagar um lance de escadas até encontrar o elevador. Marquei o terceiro andar. A tontura passava aos poucos e, porque estava aliviada pelo susto que passara, procurei o quarto dele – precisava de companhia. Sabia que não ficava longe do meu, embora não me lembrasse do número. Por casualidade vi a sua silhueta. Corri e ainda tentei alcança-lo com o braço antes de cair acidentadamente no chão e bater com a cabeça numa pesadíssima jarra de mármore. Acordei não me lembrando de muito e deparei-me com as malas prontas, no que parecia ser o meu quarto. Ajudou-me a vestir uma nova toilette e segurou-me no braço com força para fazer o check out do Hotel. Ainda estando eu tão débil, não tive forças para me opor a nada. À saída, ele foi pedir que lhe trouxessem o carro e eu esperei em frente à porta de vidro. Comecei a pensar pouco a pouco, episodicamente, no que me tinha acontecido até que me lembrei porque razão estava eu ali, prestes a sair, quando tencionava ficar naquele Hotel por mais quinze dias de repouso. Entre pensamentos, chegou perto de mim um empregado, carregador de malas, que me diz “deixou isto no quarto”. E entrega-me uma saca de veludo preta cheia de amendoins lá dentro, que formavam um volume reconhecível. Abismada, respondi: “mas não estamos perto da hora de almoço, pois não?”.