Colaborar

Um livro que queria ser escrito, ainda hoje, em cima de uma mesa, com uma caneta de ponta afiada e por um poeta escanzelado, cego de fome, fora escrito quando encontrou o seu poeta na estação ferroviária lhe agarrou na mão e lhe serviu de suporte ao seu pulso magro.

A caneta ajudou massacrando o papel e deixando para trás feridas cor de luto. A mesa colaborou agradada, deixando-se estar quieta, passível, com as quatro pernas a tremer. O poeta bebeu aguardente e manteve-se aquecido por um aquecedor fraco enquanto aprendia a escrever o que o livro lhe ditava.

Tamanha era o delírio de hoje e a verdade de amanhã.