Dia / Noite

Uma violenta queda de neve isolou a escola primária do resto da aldeia. Nos primeiros dias os pais preocupados procuram salvá-las tentando encontrar formas de furar a densa camada de neve que se tinha transformado entretanto em gelo. Aos poucos o tempo foi melhorando, mas por alguma razão o gelo não derretera e continuava a barrar o acesso. A vida da escola florescera com o bom tempo. Inicialmente as crianças procuravam os pais, choravam um choro aflito, mas aos poucos, na companhia uns dos outros, começavam a pressentir as vantagens de uma vida emancipada precocemente.

Muitos anos depois os pais perderam a lembrança dos filhos e estes dos pais e do espaço fora da escola. As crianças pensando que jamais seriam perturbadas pelo contexto exterior como a certa altura conheceram, seguiram um rumo sem consciência da sua singularidade. Na linguagem falada e escrita ainda se reconheciam os traços do que fora ensinado. Contudo a relação com o espaços, com os objectos e as relações pessoais adquiriam características completamente novas.

(Posfácio) O capitalismo infantiliza.
Surpreendentemente estas crianças, mais tarde adultos, eram extremamente responsáveis no cuidado de si próprias e no convívio com os outros.