Constelações y

Tinha travado conhecimento com a dissociação do corpo e da alma, pela primeira vez, quando uma criança da sua idade morrera de leucemia. Da janela do seu quarto, sentada numa cadeira para chegar ao peitoril, viu a marcha lenta que acompanhava a menina à sua morada final. Na frente seguia o padre, na cauda as mais importantes figuras da cidade, todos de fato de cerimonia apresentando nas expressões da face um forte sofrimento.

Naquele dia nada fez senão pensar no aspecto que a menina morta tinha quando enfiada num gavetão. Durante a noite construiu imagens da menina com os olhos esbugalhados e a pupila muito pequena, que sorria e punha a língua de fora. Indignada com a má-criação, tentou perceber porque é que tinha chegado a tal fabricação daquele anjo. Descobriu que sentia uma inveja aflitiva da morta.

Como as pessoas em geral sentem.