Os sentidos perpetuos

Um vale coberto de vegetação densa e árvores de grande porte era habitado por gente silenciosa. O lago cobria o fundo do vale. Não havia casas algumas nas margens do lago, estas situavam-se mais acima, na encosta e até ao topo. As pessoas da aldeia procuravam distância da escuridão profunda a que as árvores submetiam a terra. Havia uma casa que era inalcançavel de outra forma que não de barco porque futuava no centro do lago. O ser solitário que habitava a casa tinha consciência dos moradores através da visão do fumo das lareiras e dos balões e papagaios coloridos que as crianças largavam em direcção ao céu. Se havia barulho que ecoava no vale era o que ele produzia. Os demais habitantes não viam a casa porque estava escondida pela vegetação, no entanto ouviam o som do ser. Nesta relação de sentidos passaram-se mil anos de mitos. Tinha acontecido um filho indesejado que era deixado a navegar num barco. Era então criado pelo ser que habitava a casa do lago. As gerações do mesmo ser sucediam-se em segredo. As gerações da aldeia também. Incomunicáveis mas sempre presentes, uma silenciosa e a outra invisível.