Dormência

Uma mulher de dedos compridos e elegantes em ambas as mãos, perdia a circulação sanguínea nas extremidades sempre que entrava em pânico. Estes ataques aconteciam inesperadamente e podiam ser até despertados por pensamentos e não por situações reais. Certo dia, foi convidada para uma festa em casa de uns amigos. Saiu de casa preparada com uma combinação de peças de roupa elegantíssima à qual juntou um par de luvas brancas. Na festa conheceu pessoas muito interessantes com as quais passou grande parte do tempo a conversar. A certa altura a animação de alguns convivas leva-os a formarem uma pista de dança provisória. A mulher foi a primeira a ser convidada a dançar por um homem que desconhecia e que se tinha deslocado até ela do canto oposto da sala. Ela aceitou e agarrada ao homem pelo pescoço dançou maravilhosamente várias musicas seguidas. Não lhe prestou muita atenção, excepto que era alto e que vestia preto, pois estava enterrada com a cara no seu peito. Quando se distanciou para se despedir e o ver melhor apercebeu-se quem ele era. As mãos começaram a gelar. Um formigueiro irritante invadia-lhe progressivamente o corpo e em particular os dedos, que ia de debaixo das unhas até aos pulsos. As mãos caíram como se desistissem. A mulher estupefacta tinha o olhar fixo no homem e sentia que pouco podia fazer senão balançar com os braços de modo a que estes, ao agitarem-se, produzissem algum efeito nos dedos e nas mãos que em breve ficaram totalmente imobilizadas. Consciente do seu estado e da sua figura ridícula, antecipou o momento seguinte: que todos se iriam rir dela. Provocando ainda maior pânico, a mulher não conseguia interromper os seus pensamentos e caiu desmaiada.