Cuco

Um homem solitário tinha um grande relógio de cuco muito particular ao canto da sala. A senhora que ia fazer as limpezas, ao final de cada dia, parava sempre diante do relógio a tentar entender afinal o que este tinha de tão singular. Acontecia o mesmo ao médico e à enfermeira que iam medir a tensão. E à senhora que lhe levava a sopa. E à padeira que lhe deixava o pão. E ao vendedor de enciclopédias. Menos ao carteiro. Este raramente ficava mais que cinco minutos e saia sem que nada o surpreendesse. Quando todos os outros se cruzaram e confirmaram que o carteiro era o único a não se deter diante do relógio, correram para o apanhar – queriam-lhe perguntar se sabia o que aquele relógio tinha. O carteiro disse que sabia e explicou: - como viajo muito a pé pelas redondezas e há muitos anos, sei que um caixão é uma bonita peça de mobiliário; foi uma moda que nos passou de saber aproveitar o tempo com um caixão diante dos olhos.