Hotel

A princesa egípcia veio visitar-nos na Primavera passada para se recolher com a jovem actriz húngara no quarto. Partiu três meses depois para acompanhar a actriz que fora contratada para participar num ballet moderno, dos que passam nos casinos. Este ano a princesa egípcia apareceu-nos à porta - era inverno - com as malas na mão, mais abatida que antes, cheia de febre e expectoração ensanguentada. Foi para o seu quarto privado e lá permaneceu sozinha.

Apareceu-nos um dia, com toda a elegância de uma princesa verdadeira, das antigas, educada a distinguir um grão de arroz apanhado ao luar ou em pleno dia, vestida cerimoniosamente para o lanche. Ficamos tão radiantes que mal lhe falamos – queríamos contar-lhe as novidades e, em retorno, saber o que tinha feito nos últimos meses. Ela apenas sorria, num sorriso que não se desmanchava com os tragos de chá.
Estávamos embasbacados a observá-la. No final, retirou-se até ao quarto. Seguimo-la com o olhar e mal a perdemos de vista comentamos que uma princesa assim merecia melhor sorte que andar por aí tristonha e abatida por bailarinas medíocres.

Depois de toda a excitação daquele dia, a princesa não voltara a sair do quarto.
A pedido de uma mulher egípcia que ali se encontrava connosco, mandaram chamar a família.

Eu vi a princesa mais uma vez vestida com a elegância merecida de um fato metálico, pintado de cores fortes, onde foi depositada a sua múmia.