Numa história sem acasos nem acidentes

Das paredes em frente uma da outra. Três pessoas, médicos, olham de frente, outras três pessoas, os grupos encostados a paredes opostas.
- Dois de vocês vão morrer. Não se deve a qualquer registo de doenças fatais em nenhum dos vossos relatórios, esta é simplesmente a melhor solução para todos. Não há preferência por qual de vocês deixar vivo.
Os médicos eram pessoas sérias e o seu poder é legítimo para avaliar as condições de saúde do conjunto de toda a humanidade.
Uma das pessoas que não era da equipa médica perguntou se podia ao menos se despedir da família.
- Não vamos ser sentimentais quando se trata de terminar uma vida. Se for seleccionado para morrer, os outros que deixa não lhe serão de valor algum e por isso não temos nós, nem o senhor nem eu, que ser juizes dos sentimentos de quem cá fica. Além da morte não há nada. O fim é o fim, é dar lugar aos outros que são mais aptos e assim prepetuar a espécie humana, em constante evoluão.
(Serei morto porque fiz uma pergunta?)
-Vamos fazer a escolha de forma justa. Quem tem preferência por morrer. Voluntários? Não?
(Será que ganho o jogo e fico vivo se me mostrar pronto a largar da minha vida?)
- Senhor Doutor, tenho família: mulher e três filhos.
- Saiba o senhor que pelo menos está consciente neste momento da situação vida ou morte. Imagine que um dia encontrava a morte por acidente. Sinta este momento como um previlégio. A sua família e os seus amigos sabem que um dia se perderão, ou irão perder alguém das suas relações, inesperadamente. Todos sabemos disso. A sua mulher seguirá a vida, os seus filhos serão adultos um dia.
Os médicos, como sabemos, são desprovidos de sentimentos, clinicamente falando. Detectam as doenças, curam as que podem. São clinicamente capazer de dar vida e matar.